quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Estou pensando no texto , preciso de muita transpiração e inspiração para fazê-lo , mas que merece ah isso sem dúvida .

Sentir é estar distraído


Se eu morrer novo ,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa ,
Peço que , se quiserem ralar por minha causa ,
Que não se ralem .
Se assim aconteceu , assim está certo .

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos ,
Eles lá terão a sua beleza , se forem belos .
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir ,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas flores florescem ao ar livre e à vista .
Tem que ser assim por força . Nada o pode impedir .

Se eu morrer muito novo , oiçam isto :
Nunca fui senão uma criança que brincava .
Fui gentio como o sol e a água ,
De uma religião universal que só os homens não tem .
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma ,
Nem procurei achar nada ,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não tivesse sentido nenhum .

Nõa desejei senão ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(e nunca a outra cousa)
Sentir calor e frio e vento ,
E não ir mais longe .

Uma vez amei , julguei que amariam ,
Mas não fui amado .
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser .

Consolei-me voltando ao sol e à chuva ,
E sentando-me outra vez à porta de casa .
Os campos , afinal , não são tão verde para os que
são amados
Como para os que o não são .
Sentir é estar distraído .


( Hoje F. Pessoa deu seu prefixo desde a madrugada , fazer o que ; postá-lo, inteiro , pleno , completo , sensível , o sol , a chuva ...a Vida .)